terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cabeças de abóbora dão espectáculo deprimente

Juntar três papagaios cabeça de abóbora num palco não é tarefa fácil. Só a Fátima Campos papagaio se lembraria de nos proporcionar um serão tão deprimente.
É que estes papagaios já não são capazes de voar. Rebolam-se nas cadeiras, cacarejam que nem galinhas depenadas e mais parecem perus de Natal, já com o papo cheio de medronho.
Já não basta terem estado no poleiro tanto tempo, senão ainda, depois de mortos, os desenterrarem já com as pevides completamente apodrecidas. Só lá faltaram outros da mesma estirpe para o elenco ficar completo e os portugueses entrarem numa depressão irreversível.
Mas, nem tudo foi tão mau assim. Até foi interessante ouvir o general papagaio falar de autoridade – um bicho à beira da extinção neste zoo; foi curiosa a chamada de atenção do papagaio de todos os papagaios para a criminalidade – outro que, ao contrário do primeiro, procria à velocidade da luz neste mesmo zoo; e também foi estimulante recordar os discursos que ninguém entende do sem pai nem mãe nem amigos – uma ave rara que, depois de reduzida a cinzas, voltou a ganhar asas para ensinar o papagaio Alegre a voar. De resto, naquela confusão de frases sem sentido e de ideias sem qualquer interesse, ainda deu para perceber que a culpa da crise não é dos papagaios que estão no poder, mas sim do Estado Social, dos Estados Unidos, dos 15 milhões de telemóveis que os 10 milhões de portugueses possuem e, conclusão absolutamente extraordinária, daqueles que nunca aceitaram as medidas dos competentes e saudosos ministros da saúde e da educação, o fantástico duo de dança em pontas: Correia de Campos papagaio e Milú papagaio.
Foi sobretudo comovente ouvir do bico do sem pai nem mãe nem amigos que todos somos responsáveis pela crise, embora, certamente a pensar na sua própria culpa, uns mais do que outros. É verdade que não teve a hombridade de publicamente pedir desculpa aos portugueses, mas, pelo, menos, foi capaz de recordar aquela sua célebre frase do “há mais vida para além do défice” e, ainda assim, perante o quadro negro da nossa economia, considerar que o melhor era atirar-se ao rio Tejo - espontaneidade e sentido de Estado que levou os espectadores, entusiasmados, a bateram palmas freneticamente. E nós não pudemos deixar de registar esse momento extraordinário de televisão, colocando-o na nossa galeria.
No final do espectáculo, também foi enternecedor ouvir o reitor de Universidade de Lisboa dizer que estava deliciado a ouvir os papagaios cabeça de abóbora. O que nos leva a pensar que talvez devesse pensar em ir passear catatuas.

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