domingo, 29 de maio de 2011

Os papagaios em campanha

Na campanha para ocupar o poleiro, os papagaios de todas as cores cacarejam que nem galinhas à beira da degoladura e a passarada anda completamente gaseada. A bicharada tem sido sujeita aos efeitos devastadores de um autêntico vendaval de impropérios, mentiras, jogos sujos e dislates que têm contagiado as aves depenadas deste miserável galinheiro. São de facto extraordinárias as cenas reportadas pela comunicação zoológica: aves sob o temporal a zurrarem como cavalgaduras seviciadas pelos donos; aves indigentes, sem ninho, sem milho e sem forma de o ganhar, a debicarem com veneração ósculos húmidos em imagens dos papagaios que mais os têm desprezado; aves alucinadas a arrancarem as penas para ver passar os empenachados que nos últimos anos desfalcaram o celeiro; aves de continentes distantes, de turbante e asa estendida a uma sopa ou uma autorização de residência; e outras cenas de meter dó ao diabo e de envergonhar o Criador.
Alegria forjada, música rasca, bandeiras e muita fé nas baboseiras dos papagaios que prometem este mundo e o outro tomaram conta deste decadente pedaço de terra à beira-mar, onde a estupidez galopante e a demência atroz grassam como uma espécie de epidemia que ameaça levar à extinção todos os bichos cobertos de penas.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Os 12 mandamentos da campanha dos papagaios cor-de-rosa






Tal como Hitler, o primeiro papagaio concluiu que a propaganda era o meio mais eficaz para se manter no poleiro. E, para levar a efeito esse desígnio, montou uma banda bem orquestrada para tocar religiosamente os principais acordes que estruturam uma campanha eleitoral de cariz fascizante, introduziu-lhe algumas das notas com que se vendem os sabonetes e mandou escrever tudo em letra de forma
Os 12 mandamentos
1 – Construir artificialmente a ideia de unanimidade à volta do primeiro papagaio;
2 – Organizar brigadas de comissários políticos responsáveis pelos grupos nacionais de aves agitadoras, à boa maneira dos bolchevistas;
3 – Assegurar nos meios de comunicação social a criação de um cacarejar público favorável à armadilha cor-de-rosa;
4 – Explorar sem quaisquer escrúpulos a miséria das famílias de aves desprotegidas, a insegurança crescente da passarada, o medo do desemprego e a entrada do FMI no galinheiro nacional, como meios psicologicamente úteis à manipulação do receio perante a mudança, bem como utilizar as chamadas «personagens piloto», como os elementos da fauna dedicada ao desporto, à escrita, à arte e outras águias respeitadas e admiradas por aqueles que é necessário atrair à dita armadilha;
5 – Baseado na visão de Tchakhotine, estruturar e sistematizar um cacarejar tendente à interiorização da ideia de: ou nós ou o caos – nós somos a única força capaz de salvar o zoo, e por isso a maioria dos pardalitos está connosco – junta-te aos vencedores se não queres que te cortem as asas;
6 – Não reincidir na apresentação de um programa eleitoral concebido para não ser adoptado, mas optar pela promessa da salvação nacional e limitar-se a projectar críticas no programa dos papagaios cor-de-laranja;
7 – Baseado na teoria mussolinesca, de que os galináceos de cabeça oca estão surpreendentemente dispostos a acreditar em todas as tretas, criar a ilusão de que as propostas cor-de-rosa são mais sensatas e de acordo com as aspirações da passarada;
8 – À boa maneira dos regimes ditatoriais, teatralizar os aparecimentos em público do primeiro papagaio e dos restantes candidatos regionais, com todos os meios necessários à aglutinação e excitação das aves presentes e ausentes;
9 – À boa maneira do Estado Novo, fazer deslocar dos seus ninhos o maior número de bicos, votantes ou não, para simular adesão e estimular os indecisos e os imbecis a apoiarem as suas ideias;
10 – De acordo com o método utilizado por Hitler, nos seus encontros com as massas, orientar o canto segundo duas atitudes psicológicas antagónicas: uma, responsável por incutir o medo, outra, por estimular a agressividade. O medo que permite inibir o sentido crítico, a agressividade que exalta o sentido do bando; 
11 – Edificar uma estrutura de persuasão baseada na lei da simplificação:

   a) Apontar o candidato cor-de-laranja, como o único inimigo e representante da asa direita em geral;
   b) Sistematizar os pios de apelo ao voto no menor número de pontos:
          - Dramatização da não aprovação do PEC4 e o consequente derrube do poleiro dos papagaios cor-de-rosa;
          - Simulação da defesa do galinheiro social;
          - Simulação da defesa da Constituição como documento litúrgico, inatacável;
          - Simulação da defesa do ensino público e da saúde tendencialmente gratuita para todos os géneros e espécies de aves, quaisquer que sejam as suas posses;
          - Exploração da inexperiência/impreparação do inimigo cor-de-laranja;
          - Simulação da manutenção das receitas do milho impostas, tal como estão actualmente definidas.

c) Repetir os pios eleitorais até à exaustão;
d) Atribuir ao dito inimigo as culpas dos seus próprios erros de governação do zoo;
e) Assegurar a máxima rapidez na exploração das gafes ou das propostas do inimigo cor-de-laranja, procurando identificá-las com a sua impreparação e a sua opção dita capitalista ou neoliberal;

12 – Definir uma estratégia de contrapropaganda:
a) Criticar ferozmente todas as propostas do inimigo cor-de-laranja, procurando descredibilizá-las;
b) Atacar sem contemplações os supostos ou, se for caso disso, inventados pontos fracos do inimigo cor-de-laranja.







sexta-feira, 20 de maio de 2011

O carnaval dos papagaios



Este ano, excepcionalmente, o período carnavalesco vai arrastar-se até ao dia 5 de Junho. A Europa está estupefacta e a Merkel papagaio já mandou um recado: nós, os arianos, a trabalharmos que nem mouros e vocês, os verdadeiros mouros, aí no bem-bom, a divertirem-se ao carnaval, como se tivessem olhos azuis e penas louras. Era só o que mais faltava!

O certo é que não há quem pare as arruadas de papagaios mascarados de tudo e mais alguma coisa e de acordo com as ambições pessoais de cada um. Pardalitos armados em pavões são aos bandos a esvoaçar por tudo quanto é sítio; aves de asa direita disfarçadas de asa esquerda democrática, outras de extrema-esquerda a simularem voos de esquerda moderada e até fascistas a fazerem-se passar por democratas.

Mas, o mais curioso é o colorido desta fantochada, onde nenhum papagaio assume as penas que carrega. Até aqueles que possuem penachos cor-de-laranja e cor-de-rosa estão a tentar tingir a penugem. É o caso do papagaio que se diz preto por afinidade e o outro, o rei do disfarce, que, em resposta ao primeiro, já se prepara para surpreender tudo e todos quando surgir de rastas ou carapinha e bico achatado, arrastando atrás de si um número considerável de passarinhos negros que se juntarão aos papagaios tailandeses, de turbante e tudo, e à brigada do reumático que já o segue para todo o lado, de chinelo na pata, empoleirada em bengalas e arrastando as próteses, num sacrifício memorável, para não dizer heróico, que justifica umas passeatas fora da gaiola, uns almoços de sementes de gergelim e algum do milho que vai rareando neste zoo.  

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Há papagaios que não se enxergam


Se há papagaios que adoram poleiro são os que procuram as feiras para se pavonear. São uma espécie interessante que percorre todas as romarias sem olhar a distâncias. Perto ou longe, lá voam eles a toda a velocidade, arrebitando as penas e batendo as asas para chamar a atenção do maior número de aves, sejam elas canoras, de rapina ou mesmo agoirentas, com as quais trocam mimos, debicam xoxos e apertam as asas com uma sinceridade que chega a ser entusiasmante.

Curiosa é a cenografia que normalmente montam e os adereços que usam, sempre de acordo com as características populares e folclóricas das várias regiões do zoo, onde aproveitam para arrastar a asa por memórias antigas, eternamente repetidas e que, inevitavelmente, servem para evocar a agricultura de subsistência e a nostalgia das sociedades medievais.

O problema é que estas aves de arribação, conhecidas que são, de ginjeira, por se disfarçarem de regedores revoltados com os dois milhões de hectares de terras abandonadas, não têm tido muito sucesso nem angariado muita simpatia por parte daqueles a quem, manhosamente, tentam inculcar a ideia revolucionária de que a terra é de quem a trabalha.

Mas, desta vez, as eleições vão ficar marcadas por uma surpresa. Pelo menos esta é a promessa de um papagaio que decidiu fazer uma mudança radical no que diz respeito à estratégia para convencer, sobretudo, as aves de cabeça oca a seguirem-lhe o rasto. O percurso das feiras e das romarias vai manter-se, os ditos adereços – chapéus, bonés e boinas – também vão continuar a ser a imagem de marca, no entanto, numa genial mutabilidade camaleónica, e para chamar a si os trotskistas, este papagaio decidiu mascarar-se de Miguel, o seu irmão careca e um dos principais promotores da teoria da terra queimada.

Quem sabe ele consiga a proeza de reunir cristãos, judeus, muçulmanos, fascistas, centristas, sociais-democratas, socialistas e comunistas… Não sabemos é como irá disfarçar a voz de falsete. Talvez bebendo umas quantas garrafas de bagaço e fumando, de preferência muito, tabaco ou outras ervas importadas.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Os papagaios lambe-botas


Há muito tempo que desejávamos enriquecer a nossa galeria com papagaios portadores de distorções genéticas assinaláveis. E, desta vez, conseguimos adquirir dois interessantes exemplares. Trata-se do Nico-lau e do Mete-lo, duas aves que se vendem às esquinas das ruas, que assumem a postura dos palhaços e dos quais grande parte da passarada já está farta de ouvir cacarejar loas à incompetência daqueles que têm desgovernado o zoo ou a fazer coro com os que têm comparado o FMI ao Frajola que come piu-pius.

Ligados à comunicação social zoológica, ambos sobrevoam o BE A BA da economia subterrânea e, do alto das suas tribunas, enjoados com o seu próprio hálito, é normal vomitarem as alarvices que lhes são recomendadas pelos comparsas cor-de-rosa que os ajudaram a sair da casca e que os têm amparado ao longo de uma vida de indigência ética.
Um deles, com o seu sorriso imbecil, normalmente enforcado em laços à gato de todas as cores e feitios, como se aquele adorno lhe mascarasse o bico caricato ou lhe conferisse uma autoridade intelectual que nunca teve, nem nunca terá, limita-se a passar a asa nas penas de uma trupe de papagaios que tem esvaído o celeiro da pevide e do milho necessários à manutenção do zoo e à preservação de uma fauna em perigo de extinção; o outro, menos apalhaçado, substancialmente mais vesgo, e até um pouco mais sabujo, mas não menos imbecil que o primeiro, decidiu assumir a trágica obrigação de lamber, quando não chafurdar, as feridas da dita trupe, numa tentativa desesperada e ridícula de manter vivo um cadáver que já devia estar a fazer o tijolo normalmente utilizado na edificação dos muros onde se celebra o desaparecimento dos políticos de má memória.
Curioso é ambos aparentemente não meterem as patas nos recursos públicos. Mas também não deixa de ser verdade que este constitui o seu verdadeiro disfarce. Isto porque não é difícil perceber que os papagaios de alto penacho sabem que não podem desprezar os doentes atingidos pelo esquerdismo crónico e obsessivo, nas variantes entre o bacoco e o esquizofrénico, o que significa que, para continuarem a sobreviver no mercado da comunicação obtusa, são obrigados a alimentar a chamada pluralidade democrática e, neste contexto salutar da maior hipocrisia, não têm pejo em dar espaço para voar a urubus da estirpe lambe-botas como são os casos dos nossos Nico-lau e Mete-lo.