segunda-feira, 9 de maio de 2011

Há papagaios que não se enxergam


Se há papagaios que adoram poleiro são os que procuram as feiras para se pavonear. São uma espécie interessante que percorre todas as romarias sem olhar a distâncias. Perto ou longe, lá voam eles a toda a velocidade, arrebitando as penas e batendo as asas para chamar a atenção do maior número de aves, sejam elas canoras, de rapina ou mesmo agoirentas, com as quais trocam mimos, debicam xoxos e apertam as asas com uma sinceridade que chega a ser entusiasmante.

Curiosa é a cenografia que normalmente montam e os adereços que usam, sempre de acordo com as características populares e folclóricas das várias regiões do zoo, onde aproveitam para arrastar a asa por memórias antigas, eternamente repetidas e que, inevitavelmente, servem para evocar a agricultura de subsistência e a nostalgia das sociedades medievais.

O problema é que estas aves de arribação, conhecidas que são, de ginjeira, por se disfarçarem de regedores revoltados com os dois milhões de hectares de terras abandonadas, não têm tido muito sucesso nem angariado muita simpatia por parte daqueles a quem, manhosamente, tentam inculcar a ideia revolucionária de que a terra é de quem a trabalha.

Mas, desta vez, as eleições vão ficar marcadas por uma surpresa. Pelo menos esta é a promessa de um papagaio que decidiu fazer uma mudança radical no que diz respeito à estratégia para convencer, sobretudo, as aves de cabeça oca a seguirem-lhe o rasto. O percurso das feiras e das romarias vai manter-se, os ditos adereços – chapéus, bonés e boinas – também vão continuar a ser a imagem de marca, no entanto, numa genial mutabilidade camaleónica, e para chamar a si os trotskistas, este papagaio decidiu mascarar-se de Miguel, o seu irmão careca e um dos principais promotores da teoria da terra queimada.

Quem sabe ele consiga a proeza de reunir cristãos, judeus, muçulmanos, fascistas, centristas, sociais-democratas, socialistas e comunistas… Não sabemos é como irá disfarçar a voz de falsete. Talvez bebendo umas quantas garrafas de bagaço e fumando, de preferência muito, tabaco ou outras ervas importadas.

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