domingo, 29 de maio de 2011

Os papagaios em campanha

Na campanha para ocupar o poleiro, os papagaios de todas as cores cacarejam que nem galinhas à beira da degoladura e a passarada anda completamente gaseada. A bicharada tem sido sujeita aos efeitos devastadores de um autêntico vendaval de impropérios, mentiras, jogos sujos e dislates que têm contagiado as aves depenadas deste miserável galinheiro. São de facto extraordinárias as cenas reportadas pela comunicação zoológica: aves sob o temporal a zurrarem como cavalgaduras seviciadas pelos donos; aves indigentes, sem ninho, sem milho e sem forma de o ganhar, a debicarem com veneração ósculos húmidos em imagens dos papagaios que mais os têm desprezado; aves alucinadas a arrancarem as penas para ver passar os empenachados que nos últimos anos desfalcaram o celeiro; aves de continentes distantes, de turbante e asa estendida a uma sopa ou uma autorização de residência; e outras cenas de meter dó ao diabo e de envergonhar o Criador.
Alegria forjada, música rasca, bandeiras e muita fé nas baboseiras dos papagaios que prometem este mundo e o outro tomaram conta deste decadente pedaço de terra à beira-mar, onde a estupidez galopante e a demência atroz grassam como uma espécie de epidemia que ameaça levar à extinção todos os bichos cobertos de penas.

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