quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ana papagaio brilha no tiro ao alvo


As eleições no Zoo terminaram num vendaval que deixou os papagaios cor-de-rosa completamente depenados, e alguns deles, os que fizeram tudo o que estava ao seu alcance para não serem arrancados do poleiro, acabaram mesmo degolados. Pode dizer-se que aconteceu uma carnificina atroz, com voos suicidas em direcção às árvores, muitas lágrimas a escorrerem pelos bicos e o desespero de uma inevitável travessia do deserto cujas consequências certamente deixarão muitos papagaios com as patinhas fora do tacho e outros com as asinhas implacavelmente chamuscadas.
Entretanto, curiosamente, enquanto alguns deles procuram minimizar os estragos, reunindo-se num esforço meritório para encontrar aquele que os pode conduzir à recuperação do poleiro, outros – os que andam ao milho na União Zoológica Europeia, e talvez porque as empresas de sondagens e os meios de comunicação ficaram totalmente arrasados pela tempestade – ainda não tiveram notícia da tragédia e, por isso, mantêm-se no seu cacarejar convicto, como se tivessem, mais uma vez, conseguido enganar os passarinhos de cabeça oca.

É o caso da Ana papagaio, uma ave de bico sempre aberto e pronto para desferir bicadas em todas as direcções, que fez chegar um pombo-correio ao Largo do Rato com uma mensagem onde recordava as velhas malfeitorias de um papagaio armado em pavão e aproveitava para recomendar que o não convidassem para integrar o novo governo cor-de-rosa – iniciativa que deixou o visado de penas em pé e mereceu a pronta e indignada reprovação do Lello papagaio, uma ave de rapina aciganada que sempre primou pela boa educação, designadamente quando, em tempos, de forma cortês, a terá equiparado a um rottweiler à solta ou quando, num cumprimento delicado, fez o obséquio de chamar foleiro ao cavaquinho sem cordas.
Estamos certos que os papagaios cor-de-rosa, que tanta falta fazem ao sobe e desce do poleiro, depois de ultrapassarem a crise antropofágica, hão-de voltar com a penugem já brilhante e os bicos bem afiados para acertarem contas com os rivais cor-de-laranja e mimosearem o Coelho nos seus primeiros passos como o novo rei da selva.

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