quarta-feira, 22 de junho de 2011

Papagaios que insistem em não abalar


Os papagaios andam mais calados, mas duvidamos que alguma vez se calem. Os cor-de-rosa andam murchinhos, e com razão. Foram apeados do poleiro e perderam o seu leader, que está a fazer a mala para voar ao encontro da meditação sobre a origem e destino das aves de rapina. Por sua vez, o Seguro (que morrerá de velho sem lá chegar?) procura no galinheiro garantir o prémio que cubra os estragos das eleições no Zoo e o São Francisco Assis, imbuído da sua fé, empenha-se na reunião de todas as aves depenadas pelos novos ventos dominantes, e promete-lhes o Céu e a terra, mas também o perdão dos seus pecados e a renovação da esperança. Quanto aos cor-de-laranja, ainda em estado de graça e aparentemente serenos no bater de asas, descalçaram, sem grandes prejuízos, a nobre bota onde começaram por meter as patas e, de momento, aproveitam para cacarejar pouco porque não há tempo para abrir o bico.
A passarada está expectante, algumas espécies, erradamente, acham até que os urubus foram definitivamente rapinar para outras bandas e começa a ouvir-se um ligeiro mas esperançoso chilrear das aves canoras.
Mas, nesta Primavera tardia, há papagaios que insistem em não abalar, mantendo um ruído insuportável, descabelado e até ofensivo para a inteligência das outras aves, em canais mal sintonizados com as novas ondas hertzianas que cobrem o espaço do zoo. É o caso do Emídio, um depenado orelhudo, que não pia uma para a caixa, que nunca se percebeu porque lhe deram autorização para abrir o bico e que continua a ser chamado para cantar de galo no festival da TV pública.
O prós e contras é necessário manter-se porque o contraditório alimenta e dá saúde à democracia, mas está na hora de calar alguns destes indigentes, que já não é possível ver e ouvir sem vomitar. Há que abrir um novo espaço a bicos jovens, desenferrujados, mais inteligentes e menos conotados com gurus e liturgias que passaram à história. E também há Fátimas que já pregaram o suficiente e que bem podiam voar para outras paragens, porque não se sentiria a sua falta nem a dos seus convidados habituais.

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