sábado, 23 de outubro de 2010

Um papagaio sem fé


Depois do pântano e do zoo da tanga que levaram Guterres papagaio e Durão papagaio a voar para outras paragens, a enraizada psicose do esquerdismo, a direita dos invejosos e o sem pai nem mãe nem amigos assassinaram o Santana papagaio das trapalhadas para colocarem no poleiro o papagaio que vive em São Bento. O zoo estava finalmente entregue à bicharada, mas a maioria dos intoxicados papagaios portugueses acreditaram que Jesus Cristo tinha regressado à terra.
E com Jesus sentado no poleiro deixaram-se evangelizar até à completa cegueira de uma fé inquebrantável. Afinal, Jesus toma conta de nós e todas as suas decisões são aceites como dogmas. Mas Jesus inclina o zoo para o inferno, desbarata todos os direitos que o seu rebanho conseguiu angariar à custa de décadas de suor e lágrimas, angaria uma multidão de apóstolos da sua estirpe para a maior pouca vergonha que há memória desde o tempo da nossa evangelização por terras de África e da América. E tudo para o bem de todos nós, que somos pecadores e merecemos a flagelação.
É verdade que o zoo não tem outra solução senão continuar a ter fé em Jesus Cristo, nosso senhor. Heresia é pensar que outros deuses despontam no firmamento e a fogueira é o lugar certo para quem imagina a possibilidade de tirar Jesus do poleiro. Somos um povo fiel à nossa miséria porque acreditamos que é o nosso destino. E em quem havíamos de continuar a acreditar? Em Jesus. É claro. Só ele nos pode salvar das chamas que já nos queimam as casas e os empregos, mas também a sobrevivência dos velhos e a esperança dos jovens. Mas que representa tudo isso senão bens materiais que nos atiram para a miséria mas nos roubam a fé? Para entrarmos no céu, tal como viemos ao mundo, só nos resta continuar a acreditar nos apóstolos e nas beatas de todas as cores e de todos os credos que alimentam a nossa fé na verdadeira salvação: Jesus e o seu orçamento são os únicos escudos que podem proteger -nos do diabo do FMI. Morramos sozinhos e enganados, mas agarrados à nossa fé. Espoliados, desonrados mas com fé. Deixemos passar o orçamento que nos vai levar à bancarrota e à indigência, mas não percamos a fé, nem nos deixemos tentar por aquele monstro que nos manda farpas da Madeira – pelos vistos, o único possuído deste zoo que há muito tenta convencer-nos a mandar Jesus para o inferno.

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