segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Os papagaios e a face oculta da verdade



Jorge sem pai nem mãe, afinal, tem um amigo. Pelos vistos o mesmo de viperino papagaio e de papagaio jamais. E é natural. Depois de medrarem no mesmo esterco, era inevitável a estima particular que nutrem pela face oculta do papagaio cabeça de penedo.
Dados os altos serviços que esta estirpe de papagaios já prestou desinteressadamente ao zoo, também não é difícil a passarada reconhecer-lhe um alto valor moral, mas também, e sobretudo, uma agilidade intelectual associada a uma enorme capacidade técnica para transformar sucata em milho.
Neste contexto, não se compreende que os bicos da justiça estejam a cacarejar infâmias completamente destituídas de senso, designadamente a propósito do dito papagaio cabeça de penedo, que, de resto, tem no seu filhote pedregulho um álibi perfeito. Aliás, álibi este que atesta de forma clara, diríamos até, de forma insofismável, o real sentido de família dos penedos e seus correligionários.
Sem querermos cometer uma inconfidência, temos como certo que a face oculta da verdade há-de vir ao de cima e tudo se resolverá quando ficar a saber-se toda a história triste de um pequeno e ranhoso pedregulho abandonado entre a sucata, o dito filhote, que, por lapso, foi introduzido num daqueles pacotes de pipocas que o benemérito sucateiro era pródigo em distribuir pelos papagaios que o protegiam das muitas aves de rapina que proliferam no negócio. Parece mentira, mas é verdade, ao abrir gulosamente o pacote, entre os grãos de milho lá estava um pedregulho de olhinhos tristes e lancinantes pios que o penedo considerou uma dádiva de Deus. Ao adoptá-lo, pode dizer-se que a trovoada desabou sobre o penedo, abrindo-lhe algumas brechas, mas consta que, para além dos citados, são muitos os papagaios cabeçudos, e de várias cores, que se perfilam para testemunhar a sua idoneidade e altruísmo.







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