quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Há papagaios que não gostam do facebook

Dizer-se que se gosta ou não do facebook todos temos esse direito, agora considerar-se esta democrática rede social a razão do fim do mundo é demais e até contraditório, tendo em conta que a bombástica afirmação vem de um papagaio que opina sobre tudo, que sabe tudo e que fala de tudo e de todos com a maior falta de respeito e de vergonha.
É certo que terá tido uma infância muito difícil. Basta recordar que cresceu ao lado de uma poetisa de enorme talento, que o terá traumatizado quando lhe apontou outro caminho que não o da literatura, e ao lado de um dos maiores papagaios do seu tempo, um pai com capacidade camaleónica de mudar a cor das penas e de se transformar em gato devorador de aves fedorentas.
Ora, tudo isto devia ser deprimente e até aterrador para um papagaio de bico curto e ainda a aprender a voar. É compreensível. E também é compreensível que odeie os professores e que se recuse terminantemente a cruzar-se com os colegas da escola primária.
Nenhum papagaio adulto gosta de ser confrontado com os maus tratos a que foi sujeito pelos professores malvados que mortificavam as patinhas dos alunos quando estes se portavam mal ou davam erros no ditado, nem tão pouco de admitir sentar-se à mesa com os horrorosos companheiros que lhe esmifravam a cabeça com calduços a toda a hora, que sistematicamente lhe roubavam o papo-seco com fiambre ou o segregavam ao chamarem-lhe menino copo de leite. Isto para não se falar da sua relação com a aritmética, onde devia ser uma lástima, ou com o desenho, que só podia se um desastre – basta ver-se como retrata o mundo, onde só vê inimigos.
Só não se entendem bem as razões porque está sempre disponível para defender as araras acusadas de abusarem de minúsculos bicos de lacre acabados de sair do ovo, bem como colocar-se ao lado daqueles que fazem deles bombas humanas ou se servem de avezinhas impúberes para realizarem casamentos em grupo… Será que detestar juízes, odiar os professores e os colegas de infância ou perder a cabeça quando ouve falar do Bush justifica um papagaio tão ressabiado? Ou tudo isto não passará de uma espécie de doença hormonal que o impede de desempenhar o seu papel de homem capaz de amar?
Em todo o caso, há certas ideias que este papagaio defende com as quais não podemos deixar de concordar plenamente. Por exemplo, quando afirma que existe excesso de comunicação, tem toda a razão. E todos devíamos seguir o seu conselho: desligarmos todos os aparelhos, sobretudo a televisão, no canal onde ele aparece muito a pavonear-se; deixarmos de comprar jornais, principalmente aquele onde semanalmente vomita sermões e dá tiros em todas as direcções; e deixarmos de comprar livros, de preferência as suas literárias aventuras com as quais a humanidade nada tem a ver, nem a beneficiar.
PS: as últimas notícias falam de um bando de papagaios que decidiu assaltar à pata armada todas as casas dos portugueses, revelando a sua brutalidade no caso particular das casas dos funcionários públicos.

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