quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ou votam em mim ou mato-me!

Que horror! Que tomada de posição tão extremada. Há papagaios que ainda não sabem que a Revolução dos Cravos já acabou. E ainda não aprenderam que a política da terra queimada também já lá vai. Afogada nos seus próprios gritos morreu a UDP e em coma está, há décadas, o MRPP. E se pensarmos que os capitães de Abril não passam de símbolos tão simpáticos como o galo de Barcelos é fácil perceber que a estratégia do Alegre papagaio não vai levá-lo ao poleiro. É verdade que outros tiveram sucesso. O caso do papagaio sem pai, sem mãe e sem amigos, mas com uma dívida que não deixou de pagar a quem, contrariado, o colocou no poleiro, é um exemplo. Só que a passarada já está avisada e não deve voltar a cair na armadilha que depenou o Santana papagaio.
Por outro lado, é preciso ter cuidado. No assalto ao poleiro, umas vezes a morte espera os mais aventureiros. E o Alegre papagaio que tantas vezes recorda D. Sebastião nos seus poemas, devia ter mais cuidado com as atitudes e as ambições. A vaidade é um pecado mortal e decidir fazer a rodagem do carro ao Pulo do Lobo para sair do nevoeiro como o grande salvador não está ao alcance de todos.

Afinal, quem acredita que o Alegre papagaio pode ser o D. Sebastião que vai evitar a invasão de Portugal pelo FMI? Muito poucas aves deste zoo, parece-me. As da chamada esquerda democrática estão a fazer um frete para evitar o ridículo das anteriores eleições, quando pediram o voto no velho papagaio de todos os papagaios; as da chamada esquerda antidemocrática decidiram concorrer com um pintassilgo sem voz; e as da chamada esquerda moderna vão votar alegremente para se divertirem à custa dos papagaios que ainda lhes dão ouvidos. Por sua vez, as aves ditas sociais-democratas já há muito se desiludiram com os poetas revolucionários e as ditas centristas continuam a acreditar no dito D. Sebastião para pôr ordem nesta verdadeira selva.

Mas nem tudo está perdido! Quatro votos a seu favor vão certamente cair na urna. O seu e os das suas três barbies louras de estimação: a Roseta papagaio, que sempre teve jeito e disponibilidade para arquitectar a forma de outros papagaios chegarem a presidentes,
a Edite papagaio que há muito vive nas estrelas sem saber ler nem escrever, e que sempre o poderá acudir nalguma calinada na gramática,
e a Belém papagaio, muito dada às questões da saúde, que certamente também será muito útil, sobretudo quando a tensão arterial do Alegre subir ao rubro nos discursos com expressões e palavras roubadas aos seus poemas. Expressões e palavras que, de resto, não são difíceis de antecipar:

«apodreceu o sol dentro de nós»,
«o sol crucificado»,
«silêncio de morte em cada voz»,
«braços negros de fome»,
«homens de joelhos»,
«fantasmas»,
«naufrágio»,
«tormentas»,
«revolta»,
«indecisão»
e outras tão ou mais estimulantes como estas.


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