segunda-feira, 7 de março de 2011

Começam a contar-se as armas no galinheiro


Enquanto os papagaios cor-de-rosa se debicam agressivamente a propósito da escolha daquele que preferem para os liderar na luta pela manutenção do poleiro, a galinha mais ladina do planeta não perde tempo a promover um encontro íntimo com António papagaio, como ela refere desinteressadamente, um dos trunfos do Partido Socresta.
Numa conversa tu cá, tu lá, entre uma canjinha, arroz de pato e saladinhas variadas, tudo certamente bem regadinho e pago pelo contribuinte, a dita ladina procura abrir as asas do amigo e este não perde tempo. Humildemente, começa por dizer que nunca acabou nada que tenha começado e, depois, numa síntese só possível a um verdadeiro artista, pinta com realismo o seu auto-retrato ao afirmar que nos últimos 10 anos em que o PS tem estado no poleiro as mudanças têm sido gigantescas. E é verdade. Que o digam os passarinhos públicos, cujo poder de compra recuou os referidos 10 anos; que o digam os velhos e as grávidas, cuja assistência recuou ao tempo da monarquia; que o diga a dívida pública, que regressou ao desgoverno do Afonso Costa; que o digam os operários desempregados, que recuaram à crise industrial do século XIX; que o digam os jornalistas, que regressaram aos tempos áureos do lápis azul; que o digam os alunos e os professores, que recuaram ao tempo do Magalhães e às suas viagens pelo desconhecido; e que o digam todos os pardalitos, que não se cansam de enaltecer as benfeitorias de que têm sido alvo em cada orçamente, seguido de mais um, dois ou três PECs.
Mas, como se não tivesse culpas no cartório, o sem pai nem mãe, com a sua inesquecível experiência de catatua de Estado, associada a uma visão de águia pesqueira, afirma que o zoo está em apuros e avisa que eleições antecipadas não vão resolver nada porque essa é uma solução que pode fazer cair do poleiro a sua família de papagaios e lá colocar uma espécie que, em tempos, sem dó nem piedade, correu à pazada do dito poleiro. Neste contexto, uma plataforma de entendimento entre os papagaios cor-de-rosa e os cor-de-laranja parece-lhe a estratégia mais apropriada para manter o galinheiro em total desordem e por muito tempo. Ideia sufragada por outros papagaios pesados, como o filho do pai de todos os papagaios que acredita que o seguro morreu de velho, o que o leva apoiar um António, o dito seguro, e a virar costas ao outro, o preferido da ladina; ou como o próprio pai de todos os papagaios que já anda a dar catequese numa nova loja discreta, ali ao Bairro Alto, onde as varinas, agarradas que estão a uma tradição que remonta à Idade Média, nunca dispensam o avental.
Mas o António da ladina é esperto. Recorda-se bem de que nem sempre esteve do lado do referido pai de todos os papagaios, admite que o seguro não é velho mas útil em tempos incertos, e não está interessado em ser depenado. Depenado já foi nos arredores da capital e essa constituiu a experiência suficiente para perceber qual é o seu tempo certo, para além de saber perfeitamente que não se deve meter com as levadas da breca das varinas. Por isso, desta vez é provável que consiga acabar o que começou. Mais tarde logo se verá se lhe crescem as asas para voos mais altos.

Sem comentários:

Enviar um comentário