quarta-feira, 16 de março de 2011

O papagaio da sustentabilidade insustentável


O papagaio da sustentabilidade, aquele que, em tempos, afirmou ter descoberto a fórmula para garantir por 100 anos a segurança social e que, há uns tempos, veio publicamente retratar-se ao confessar que, afinal, essa fórmula era apenas uma anedota que tinha contado para distrair a passarada já reformada, ou a pensar reformar-se, e caçar-lhes os votos necessários para continuar a arrancar-lhes as poucas penas que lhes restam, é o mesmo que, mais recentemente, voltou às charadas de mau gosto quando, de forma descarada, veio garantir a dita sustentabilidade do sistema até 2050. E é o mesmo que, depois de ter feito o trabalho sujo do aumento da idade da reforma, compensado este com a redução do valor dessa mesma reforma, e outras tropelias que têm segurado o voto dos incautos atormentados com a ameaça de um dia deixarem de receber o milho que mal lhes garante a sobrevivência, se transferiu para o poleiro da economia. E fez muito bem. Afinal, num país em que a economia está totalmente parada, para não dizer desconchavada, este é exactamente o lugar certo para uma ave de cabeça oca, incapaz de voar e, em suma, uma abécula nitidamente cansada de tanta trafulhice e de tanta incompetência.
Há muito escondido no seu ninho, a aguardar a reforma que planeou, sem ter necessidade de trabalhar até aos 65 anos, como, por enquanto, a maioria das aves deste zoo – era mesmo só o que mais faltava –, deu um ar da sua graça ao colocar a crista de fora para, com um bico só equiparado ao do Pinóquio, dizer que faltava bom senso aos camionistas em greve, porque não estavam a contribuir para a dita economia, esquecendo-se que estes, agrilhoados com impostos sobre impostos, mais scuts e mais turbulência nos mercados dos combustíveis, mais dia, menos dia, vão ser definitivamente forçados a deixar de trabalhar.

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